O Sarau Cultural


 Chegando à sua quinta edição no ano de 2010, o Sarau Cultural do Cursinho Comunitário Pimentas já se fixou como um dos mais importantes eventos culturais da periferia e, pelo quarto ano consecutivo, o evento será realizado no Teatro Adamastor Pimentas. A maior relevância deste evento para a cidade se dá pelas suas características político-sociais, que ultrapassam a esfera puramente artística.
O evento é inteiramente produzido por voluntários de um movimento popular da periferia, na periferia e para a periferia. Ocupando a agenda de um equipamento cultural público e, ainda, produzindo, presenciando e refletindo sua própria cultura, a periferia quebra o paradigma da “cultura de massa para a massa”, o paradigma da indústria cultural.
Apesar da expressão conquistada pelo Sarau Cultural, este ainda conserva seu caráter comunitário através da parceria entre produtores, artistas e público. Os artistas, ao entenderem a importância cultural, social e política que o evento carrega, se incorporam no corpo de voluntários apresentado gratuitamente seu trabalho. Assim, sem o envolvimento de dinheiro (a entrada é gratuita), o interesse que motiva o evento (para produtores, artistas e público) é unicamente o cultural. A 4ª edição contou com mais de 800 pessoas que lotaram os bastidores, o palco e as cadeiras do teatro.
...É Da Periferia
O Sarau Cultural é um evento realizado por um grupo de voluntários de um movimento popular de grande expressão em Guarulhos, o Cursinho Comunitário Pimentas. Movimento que, desde 2002, além de fazer sua lição de casa – colocar o jovem da periferia na universidade – desenvolve trabalhos ambientais, políticos e sociais e, claro, não deixou de influenciar também o cenário cultural de Guarulhos.
Como toda ação do Cursinho Pimentas, o Sarau Cultural é um evento que mobiliza diversos voluntários que organizam, planejam e executam toda a produção, desde o contato com os artistas até o apagar das luzes do teatro.
Em 2006 ocorreu o I Sarau Cultural (originalmente “Sarau Literário”) com alguns artistas mais próximos e com um público basicamente constituído pelos próprios alunos e voluntários do Cursinho. De lá pra cá, o Sarau ganhou em variedade de artistas e ampliou seu público, masempre mantendo o foco em divulgar e valorizar o trabalho do artista local; aquele que vive, reflete e fala da periferia.
A variedade de artistas e de expressões artísticas que já passaram pelo Sarau do Cursinho mostra o quanto a cultura periférica é rica e não se limita ao que é transmitido pela grande mídia, muitas vezes de forma pejorativa, como aquilo que a “massa” faz e gosta.
...É Na Periferia
É na Região dos Pimentas, Bonsucesso, Cumbica e proximidades, que o Cursinho Pimentas desenvolve o Sarau Cultural desde 2006 (sempre em meados de julho). O primeiro Sarau aconteceu no espaço do Sindiquímicos, mas, devido a diversidade de artistas e a ampliação de seu público, o evento foi transferido para o Teatro Adamastor Pimentas, no interior da Universidade Federal de São Paulo.
A mudança se fez importante não apenas pela acomodação dos artistas e público, mas, também pela ocupação de um equipamento público pela população local, equipamento este que estaria fadado à utilização acadêmica da própria Universidade, se a própria população não exercesse seu direito de utilizá-lo.
Todos sabemos o quanto as regiões periféricas são carentes de equipamentos públicos em geral; não é diferente em relação aos equipamentos culturais. À cultura, por sinal, sempre foi reservado um lugar residual nas formulações de políticas públicas; as “ações culturais “ do poder público geralmente são limitadas à apresentações de artistas midiáticos em datas pontuais, na periferia, ou com certa regularidade, nos centros urbanos. Como o centro da ação é a apresentação em si, tanto faz se o artista é ou não local, tanto faz qual o conteúdo da expressão artística e não há uma reflexão sobre as implicações do tipo de conteúdo que está sendo apresentado para uma população que já possui informações de baixa qualidade.
O Sarau Cultural vai no sentido oposto ao utilizar um equipamento cultural periférico, valorizando o mesmo ao descentralizar a produção artística de qualidade e facilitando o acesso da população local às apresentações culturais; fazendo da, e divulgando a, periferia como um “foco de cultura”.
...É Para a Periferia
É claro que nada disso teria a importância que tem se a intenção do evento não fosse, também, a formação cultural de uma parcela da população socialmente excluída dos “centros culturais”. Essa parcela da população não encontra nos equipamentos culturais um local de lazer ou de reflexão sobre sua própria condição social e humana. O Sarau Cultural é uma forma de inverter essa situação. Tudo para que a população da região possa ter uma visão do que é a sua própria cultura, do que é feito em sua região, nas proximidades dela e em seu Município.
Pelas próprias características do Sarau Cultural, a formação cultural promovida pelo evento ultrapassa os limites daquilo que é costumeiramente entendida como tal, a preparação para frequentar apresentações artísticas. Um aspecto mais amplo da formação cultural é alcançado neste Sarau, pois este é uma conquista na qual a periferia é protagonista e reproduz e reconstrói a sua cultura.